A crise de popularidade dos líderes globais
Um olhar sobre a rejeição crescente em governos ao redor do mundo
Nos últimos tempos, um fenômeno na política internacional tem chamado atenção: a crescente dificuldade dos líderes mundiais em manter bons níveis de popularidade. Governantes com aprovação superior a 50% tornaram-se raridade, com muitos registrando índices entre 35% e 40%.
O quadro abaixo, com dados de março deste ano, ilustra esse cenário. Desde então, praticamente todos os líderes mostraram quedas significativas em aprovação, como o presidente brasileiro, que caiu de 51% para 41%. Javier Milei na Argentina e Bukele em El Salvador são duas das poucas exceções à regra atual.
Mesmo Narendra Modi que figura entre os poucos líderes de grandes países com aprovação muito alta, tem sofrido reveses. Em junho, seu partido, BJP perdeu a maioria no congresso, sofrendo inesperadas derrotas em estados decisivos.
A África do Sul é outro exemplo. Em maio, o Congresso Nacional Africano (ANC) teve o seu pior desempenho desde 1994, quando Mandela se tornou presidente.
Abaixo temos números mais atualizados (setembro de 2024) e podemos ver como a tendência se mantém. 1
A pergunta que fica é: o que causa esse efeito atual? Seria esse um sinal dos tempos que estamos vivendo? A propagação em massa da cultura das redes sociais parece ter papel fundamental nisso.
Os algoritmos das redes entregam os conteúdos que acham que o usuário mais vai gostar. Com isso, tendemos a receber somente postagens que reforçam o nosso viés político, criando-se assim, uma verdadeira bolha. Isso faz com que os políticos eleitos já comecem com uma reprovação muito grande de quase metade da população. E a partir daí, é muito mais fácil ir perdendo aprovação do que ganhar.
Além disso, a crescente polarização torna cada vez mais desafiador para os líderes alcançarem aqueles fora da sua base de apoio. Aquela parcela do eleitorado que fica no centro está cada vez menos relevante. Até pouco tempo atrás parecia ser 1/3 do total, mas agora parece ser bem menor. Há pouca margem para ganhar o voto dos indecisos. Antigamente o político após eleito dizia: agora vou governar para todos. Hoje, não tem mais essa opção. Já começa o mandato com metade da população não querendo ouvi-lo.
E apesar de encaixar na situação brasileira, todas essas características são globais e podem ser claramente vistas em diversos países do mundo.
Uma consequência disso é uma menor probabilidade de reeleições. Até pouco tempo atrás, era esperado que um presidente fosse reeleito uma vez que dispunha de toda a máquina pública para ser usada a seu interesse. No Brasil, por exemplo, com o início da possibilidade de reeleição no primeiro mandato de Fernando Henrique, os primeiros presidentes não tiveram muita dificuldade em se manter no poder. FHC se reelegeu em primeiro turno, Lula levou com relativa facilidade e até a Dilma, com uma crise estabelecida, conseguiu manter o feito mesmo que com dificuldade. Apenas após a pandemia, que começamos a ver uma reversão de tendência com Trump em 2020, Bolsonaro em 22 e agora Biden em 24 segue a propensão.
Esse padrão global reflete não apenas mudanças na dinâmica política, mas também os desafios impostos por um mundo cada vez mais polarizado e dominado pelas redes sociais.
Os números são da Morning Consulting e são de 25 de Setembro de 2024. Por isso Lopez Obrador aparece. Ele passou o cargo para Claudia em 1 de Outubro.